Em qualquer conversa, dificilmente alguém se levantará e dirá: “Eu sou racista!”. Apesar disso – e da grande maioria afirmar o oposto, dizendo ser totalmente contra o racismo –, o fato é que é quase impossível não agir de forma racista, já que poucas coisas estão tão enraizadas na sociedade quanto o racismo. Assim, combatê-lo deixa de ser uma opção e se torna um imperativo, especialmente na educação. Pensando nisso, na noite da segunda, 18 de março, o Colégio Friburgo, a Casinha Pequenina e a Maple Bear Granja Julieta promoveram no Teatro Grande Otelo um encontro formativo para professores e educadores para debater e construir “Uma Proposta para a Educação Antirracista no Ambiente Escolar”.

Mais de 120 participantes, dentre membros da direção, coordenadoras, professores, professoras, auxiliares e assistentes acompanharam a aula da educadora Waldete Tristão, que falou sobre história, apresentou conceitos, explicou leis e sugeriu abordagens a serem utilizadas dentro e fora das salas de aula para valorizar a diversidade, fortalecer a inclusão e promover um ambiente escolar acolhedor, igual e justo.

“Não é suficiente as pessoas dizerem: ‘Eu não sou racista!’, pois o importante é ser antirracista. Pegando a cor da pele como exemplo, as pessoas brancas precisam reconhecer primeiramente que vivemos numa sociedade estruturalmente racista e que ser antirracista implica em ter atitudes que combatam o racismo”, ensina Tristão, que é doutora em Educação pela USP e tem mais de 30 anos de experiência em EMEIs de São Paulo, formando professores e gestores da área. (clique aqui e leia a entrevista completa)

Opressão e aprendizados

O racismo não é apenas real, revela-se como uma opressão. Na história, esteve presente no regime nazista, no apartheid sul-africano e nas lutas enfrentadas pela população negra dos Estados Unidos na primeira metade do século 20. No Brasil, mesmo em condições diferentes e menos explícito e institucionalizado, nesses últimos tempos, diversas notícias têm surgido aqui e ali na imprensa dando conta de estudantes sendo discriminados por causa de sua classe social, origem étnica, religião e gênero.

“O encontro foi muito bom e importante. Conhecer a história é necessário para compreender o momento atual e para que possamos nos posicionar, garantindo direitos iguais a todos os estudantes”, diz Fabiana Maitan de Carvalho Pellin, professora de inglês da Jornada Cambridge para turmas do Fundamental I e II.

Pellin fala com experiência de causa. Na infância, chegou a ser preterida na formação de grupos para a realização de trabalhos escolares por conta da cor da pele, ouvindo insultos como: “A neguinha não!”. Mais tarde, vez ou outra, era parada na rua e questionada se era a babá da própria filha. E, no aeroporto, foi barrada para que os agentes procurassem drogas em seu cabelo.

Engana-se quem pensa que esse tipo de situação é passado. Que o diga a auxiliar do Fundamental Erika Pereira da Silva. Há poucos dias, ela foi a uma loja comprar material escolar com o filho, quando percebeu que estavam sendo seguidos por um segurança. O menino foi ao banheiro e ela ficou aguardando, quando foi abordada. Ele perguntou a ela o que fazia ali e disse que não poderia ficar por lá.

“Eu sabia que era um banheiro masculino, mas estava esperando meu filho. O problema é que eu fui a única cliente a passar por tal constrangimento. Em razão de situações como essa, o encontro que o Friburgo promoveu foi mais especial ainda. Percebi que devemos antecipar ações contra o racismo e abordar o tema constantemente”, conta.

Com criatividade e de modo natural, é possível explorar certas situações e transformá-las em grandes aprendizados. Foi isso que fez certa vez a assistente da Casinha Pequenina Tamires Soares do Nascimento: “Eu passei o dia todo na turma de uma certa criança. A criança era nova na escola e, em certo momento, encarou-me, passou a mão na minha testa e me perguntou: ‘Você se queimou no sol?’. Fiquei surpresa, mas logo respondi que aquela era minha cor e que era assim desde que nasci. Conversei com a professora, organizamos uma roda e estendemos os braços, mostrando a cor de pele de cada aluno e até de outras professoras e auxiliares. As crianças ficaram maravilhadas ao descobrir que, numa única sala de aula, havia pessoas tão diferentes, mas que eram, igualmente, especiais”.

“A ideia de promover esse encontro surgiu por conta de nosso compromisso com a educação integral da criança e do adolescente. Temos trabalhado há algum tempo essas questões com nossa equipe pedagógica. Queremos sensibilizar os participantes para situações que podem passar despercebidas e iniciar um diálogo construtivo com as famílias”,
diz a professora Rosana Alves Moreira, diretora da unidade de educação infantil Casinha Pequenina.

CAFÉ, BOLO E CONVERSA COM OS PAIS

Nessa construção, o passo seguinte será dado já na próxima segunda, dia 25 de março, das 19 às 20 horas, com a realização de um novo encontro com o tema “Uma Proposta para a Educação Antirracista”. Dessa vez, a atividade acontecerá de forma remota, por meio da plataforma Zoom, e será voltada para pais, responsáveis e familiares. Mais uma vez com apresentação da professora Waldete Tristão.

Os convites já foram enviados por e-mail com o ID da reunião e senha de acesso. Para entrar, basta apontar a câmera do celular para o QR Code disponibilizado no convite. Caso tenha dúvidas ou não tenha recebido o convite, o interessado deve entrar em contato pelo telefone (11) 5541-3131 ou pelo e-mail contato@colegiofriburgo.com.br.

“A parceria entre escola e família é fundamental, pois os valores e crenças familiares têm um grande impacto na formação das crianças e adolescentes. Oferecemos oportunidades para compartilhar recursos, estratégias e melhores práticas com o propósito de construir uma educação mais inclusiva e equitativa”, finaliza Moreira.