“Não basta ser contra o racismo. É preciso se posicionar de modo antirracista.” Essa foi a tônica do encontro promovido com as famílias do Colégio Friburgo, Casinha Pequenina e Maple Bear Granja Julieta na noite da segunda, 25 de março. Realizada de modo on-line, a atividade contou com a participação de mais de 50 famílias, pais e responsáveis e teve a presença da educadora Waldete Tristão, que fez uma exposição e debateu propostas para a educação antirracista, tirando dúvida e respondendo perguntas ao final.

“O racismo é uma realidade constante e combate-lo é indispensável para qualquer mudança. Procuramos trazer uma reflexão sobre o papel da escola nesse processo, mas não podemos esquecer as famílias, a primeira instituição em que as crianças são inseridas. As crianças observam os adultos e reproduzem o que experimentam. Coisas que, muitas vezes, não são percebidas, mas contribuem para a continuidade da opressão”, explica Tristão.

A reunião com as famílias complementa outro encontro realizado uma semana antes com professores e educadores das escolas. “Buscamos oferecer oportunidades para compartilhar recursos, estratégias e melhores práticas, visando promover uma educação mais inclusiva e equitativa. Os encontros abordaram uma variedade de tópicos relevantes, desde a compreensão das raízes históricas do racismo até as novas leis e olhares que precisamos agora desenvolver. Foi um primeiro passo e muito bem dado”, diz a Diretoria Pedagógica da Casinha Pequenina Rosana Alves Moreira.

 

“Desde a infância, precisamos plantar as sementes da igualdade e do respeito. Mas para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária precisamos ter uma educação antirracista no ambiente escolar. Ao abordar o tema do racismo, as escolas têm a oportunidade de cultivar valores de respeito, empatia e inclusão. Isso não apenas combate diretamente a discriminação racial, mas também promove uma compreensão da diversidade e o reconhecimento do valor de todas as culturas, raças e etnias. Também acredito que contribui para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes, capazes de reconhecer e enfrentar o racismo em todas as suas formas, em todo e qualquer lugar.
A história negra é muito rica, precisa ser recuperada e ter suas raízes enaltecidas, quebrando estereótipos e valorizando esse povo tão importante. Acredito muito na parceria entre a escola e as famílias e o encontro reforçou a importância de continuarmos adotando práticas antirracistas, para criar um ambiente onde as crianças negras se sintam valorizadas e seguras em relação à sociedade e sua identidade racial. Combatemos o racismo de forma consciente quando o compreendemos e o identificamos.”

Pamela Matos de Oliveira, 42 anos, publicitária e mãe da Elis, aluna do 3º B do Fundamental I no Friburgo, e do Raul, do 1º A do Fundamental I na Casinha

 

“O antirracismo é uma discussão que precisa estar em todos os segmentos da sociedade, inclusive na escola, que é um ponto estruturante e forma as novas gerações. Temos séculos de história e injustiças para reverter. As consequências de todo esse tempo se refletem na vida de pessoas negras e indígenas principalmente e não há como falar em equidade e justiça sem abordar o tema. Em casa, afirmamos e reafirmamos as bandeiras antirracistas, como um preceito de vida e uma educação permanente, revendo meu lugar de privilégio, minha própria identidade. Não posso ficar só no discurso, tenho que ter uma ação prática, priorizar essa agenda. Por isso, apesar de estar com meu filho recém-nascido, precisava participar da discussão. Ficamos tristes e incomodados quando minha filha, que é loira e tem os olhos claros, entra em uma loja ou supermercado e é tratada de modo diferente, recebe um monte de elogios e é chamada de linda somente por conta dessas características. Explicamos sempre que esses elogios não são legais, que não é a cor da pele, do cabelo e dos olhos que definem quem ela é ou que a tornam mais bonita que outras pessoas. Estamos em um processo de aprendizado e o encontro com a professora Waldete foi muito importante e fortalecedor. Quando falamos em educação integral, devemos entender que ela só existe com a formação e o desenvolvimento integral do sujeito, inclusive, nas abordagens étnico-raciais. A reunião com as famílias e o encontro com os professores foram os primeiros passos, mas não pode parar por aí, a caminhada ainda é longa.”

Julia Nader Dietrich Votta, 39 anos, consultora em politicas educacionais e mãe da Catarina, aluna do G4 na Casinha e do Antônio